Resumo

Greicy Gonzalez Andersen*
Hernan Venegas Marcelo**
Este trabalho estuda a conformação do campo patrimonial no Uruguai focando, principalmente, na dimensão material dos bens culturais. Parte do entendimento de que a conformação do campo patrimonial no Uruguai se inicia décadas antes que as legislações patrimoniais fossem definidas e encontra um antecedente importante na discussão sobre a nação. Textos de historiadores, escritores, antropólogos e arquitetos e consultas em arquivos e bibliotecas do país permitem elaborar uma breve história sobre a conformação do campo patrimonial no Uruguai até a criação da Comisión Nacional de Monumentos Históricos. Espera-se que a leitura deste texto desperte o interesse e reflexão crítica pela história e cultura desse país irmão: Uruguai.
Palavras-chave: Uruguai. Nação. História. Patrimônio.
Resumen
Este artículo estudia la conformación del campo patrimonial en Uruguay enfatizando en la dimensión material de seus bienes culturais. Parte de la comprensión de que la conformación de ese campo es iniciada décadas antes de la definición de legislaciones nacionales de protección al patrimonio y tiene un antecedente importante en los debates sobre la invención de la nación en Uruguay. Obras de historiadores, escritores, antropólogos y arquitectos; así como consultas en archivos y bibliotecas del país nos permitieron elaborar una breve historia sobre la conformación de tal campo no Uruguay hasta la creación de la Comisión Nacional de Monumentos. Se espera que la lectura de este artículo despierte el interés y reflexión crítica por la historia y cultura de este país hermano: Uruguay.
Palabras claves: Uruguay. Nación. Historia. Patrimonio.
Abstract
This research studies the establishment of the heritage sphere in Uruguay, focusing mainly on the material dimension of cultural assets. It starts from the understanding that the formation of the heritage sphere in Uruguay began decades before heritage legislation was defined and finds an important antecedent in the discussion about the nation. Texts by historians, writers, anthropologists and architects and consultations in the country’s archives and libraries allow us to draw up a brief history of the formation of the heritage sphere in Uruguay up until the creation of the Comisión Nacional de Monumentos Históricos. It’s expected that reading this text will arouse interest and critical reflection on the history and culture of this brother country: Uruguay.
Keywords : Uruguay: history, nation and heritage (1860-1952)
Uruguai – A nação e a epopeia fundadora
A conformação do campo patrimonial no Uruguai está atrelada à invenção da nação. Fazendo jus à afirmação de que “a nação é uma formação discursiva que dá forma ao mundo moderno”1 (CALHOUN, 2008), o Uruguai estabeleceu uma mitologia retrospectiva das origens orientais do rio La Plata. Ela se apoia até os tempos atuais nas origens fundadoras da ruta de los orientales e na figura de José Gervásio Artigas2 (podemos ver tanto em Isidoro de Maria, que escreve “Vida del Brigadier General José Gervasio Artigas fundador de la Nacionalidad Oriental”, 1860, quanto em Francisco Bauzá, no tomo III de “História de la dominación española en el Uruguay, de 1880). O
Uruguai geopoliticamente se encontra “asfixiado” entre dois importantes Estados: o Império do Brasil e a República Argentina, o que torna ainda mais complexa a configuração da nação. Esta sensação geopolítica é descrita também pela historiografia, tratando o Uruguai sob o apelativo de “estado tapón” nos tempos iniciais de sua caminhada como nação (CAETANO, 2000).
Existe um certo desconhecimento sobre a historiografia uruguaia nos ambientes acadêmicos relacionado à independência e ao surgimento do estado-nação. Identifica-se na obra “Historia de la dominación española en el Uruguay”, de Francisco Bauzá (1880), a intenção deste historiador de elaborar uma história pátria não mais sob influência de Buenos Aires, outrora centro da vida política, econômica e cultural ao qual Montevidéu e o Uruguai estava associado. Este pensamento é compartilhado também por Castellanos (1976), que também fala que, ao analisarmos historicamente, o Uruguai é um dos últimos países latino-americanos a obter sua independência política, conquistada após a luta contra a dominação espanhola, além das dominações de Portugal (1817-24) e do Brasil (1824-28). Tal constatação a respeito do país reforça o argumento do caráter “tardio” da nação uruguaia se comparado com as jovens repúblicas latino-americanas.

Figuras 1 e 2 – Capa das publicações de Francisco Bauzá e de Alfredo R. Castellanos
Fonte: Arquivo pessoal, 2017.
Manuela Muguruza (2013), antropóloga brasileira e de descendência uruguaia, nos fala que foi somente quando os portugueses demonstraram interesse nas terras orientais, com a fundação de Colônia de Sacramento, que os espanhóis começaram a “estabelecer seu domínio sobre o território então chamado de Banda Oriental del Uruguay” (p.39, 40).
Ainda citando Muguruza (2013), no ano de 1724 Montevidéu é fundada e torna-se um dos principais portos do então Vice-reinado do Rio da Prata; mas como a cidade, assim como todo o resto do país, dependia de Buenos Aires, todas as ações deveriam ser comandadas pela mesma. Esta seria a razão do surgimento da rivalidade entre Montevidéu e Buenos Aires; mas considerando a importância que o porto de Montevidéu mantinha no Vice-reinado, começou a conquistar certa autossuficiência. Enquanto a Espanha lutava contra as tropas de Napoleão Bonaparte na Europa, causando uma crise política administrativa nas colônias, em Buenos Aires tem lugar a Revolução de Maio, em 1810. Muguruza (2013) relata que
“o governo de Montevidéu se manteve fiel à metrópole espanhola, mas dentro do país, nos povoados onde o modo de vida do gaucho3 continuava, surge um apoio à revolução, liderado por José Artigas” (p.40).
Buenos Aires, como principal cidade Vice-Reinado do Rio da Prata, estabeleceu-se como detentora do poder sobre os demais territórios do Vice-Reinado. Assim houve atos de independência, onde alguns territórios pertencentes ao “antigo vice-reino se constituíram como entidades políticas que se denominaram ‘províncias’ e às vezes ‘repúblicas’ ou ‘estados’ (MUGURUZA, 2013, p.41). Os revolucionários se concentraram em Buenos Aires e aqueles que eram fiéis à Coroa, estabeleceram-se em Montevidéu. Travaram-se várias batalhas, em que tropas revolucionárias foram diversas vezes vencedoras, mas como Montevidéu era um porto, atacar Buenos Aires e buscar suprimentos e apoio era tarefa fácil (como a aliança feita com os portugueses que estavam no Rio de Janeiro). Buenos Aires por fim assina um acordo com a coroa e entrega as terras orientais, voltando ao comando da coroa espanhola. É neste momento que:
“O general Artigas, nomeado ‘jefe de los orientales’ durante o sítio, encontra o Uruguai novamente ligado à Espanha e decide organizar uma resistência e continuar a guerra. Mas manter o sítio e continuar onde estava significava correr o risco de perder o que já haviam conquistado até então, perder terras, bens, familiares e suas próprias vidas. O general organiza uma marcha de retirada que ficaria conhecida como o êxodo dos orientais. A marcha atravessa o país, percorrendo mais de 500 quilômetros, chegando até a província de Entre Rios, na Argentina, e reúne uma quantidade impressionante de pessoas e animais(…) Na época haviam cerca de 30 mil pessoas no território a leste do rio Uruguai, e estima-se que cerca de um terço dessa população acompanhou o general Artigas”. (MUGURUZA, 2013, p. 41, 42)
De acordo com a historiadora uruguaia Ana Frega em meados do século XIX esta marcha, que até então era “vista como expressão da barbárie e do horror”, passou a ser visualizada como um “elemento formador da identidade nacional, como o começo de um sentimento de orientalidade. Isso, pois a intenção do general Artigas nesta marcha era de formar” um governo democrático, republicano e federalista em um território que abrangia não só o atual Uruguai, mas parte do Rio Grande do Sul e algumas províncias da Argentina” (p.42). Vários são os episódios que são reinterpretados e revistos, a partir do final do século XIX, envolvendo a figura de Artigas e o êxodo dos orientais. Além da forma de como a marcha, que era chamada de “la redota4” passa a ser denominada de êxodo, fazendo alusão ao êxodo bíblico, onde “a ideia de um patriarca guiando o povo para uma terra livre do jugo dos opressores” se constitui e serve às classes dominantes onde a ideia de um herói criador minimizava o papel do povo (FREGA apud MUGURUZA, 2013). Além disso, em meados do XIX, houve uma força tarefa para repatriar as cinzas do “fundador da nacionalidade”, pois as mesmas estavam no Paraguai, onde o general Artigas faleceu. Existe toda uma intenção da criação de um herói pátrio e uma identidade de um povo que luta pelos seus ideais e que fortalece o ser nacional.

Figura 3 – “El juramento de los Treinta y Tres”, quadro de Juan Manuel Blanes, 1877.
Fonte: CAETANO, 2000.
Através da pintura podemos ver também como este ideário de um herói nacional vai mudando conforme a época e é nas obras de Juan Manuel Blanes (1830-1901), pintor uruguaio conhecido como “o pintor de la patria”, que podemos ver a representação de uma “iconografia que legitimava o seu passado histórico nacional”, como afirma Susana Bleil de Souza em seu artigo intitulado “A palheta e o pincel na construção de uma mito fundador” (2008). Para ela, a elite intelectual e política uruguaia estava preocupada em estabelecer um sentimento de orientalidade do Estado nacional e incumbiu-se de estabelecer a “consciência nacional” através do trabalho artístico. Ainda Bleil de Souza acrescenta que:
“Embora cada arte tenha a sua própria linguagem, Juan Manuel Blanes através da pintura procurava expressar as inquietudes de seu tempo: pintar uma nação em construção. Blanes criou símbolos pictóricos da nacionalidade e inventou um passado iconográfico. Buscou a gênese do nacionalismo uruguaio, nas lutas de independência contra o Brasil e construiu o arcabouço de um imaginário nacional, o subsídio simbólico para a ideia de nação que a elite pensante se dedicava a construir” (SOUZA, 2008, p.155).
Juan Manuel Blanes pintou várias cenas do cotidiano do país, estabelecendo um sentimento do ser uruguaio em suas pinturas. Um dos quadros de maior notoriedade foi “El juramento de los Treinta y Tres” que Blanes finalizou em 1877, causando êxtase e comoção geral que chegou até Buenos Aires, de acordo com Souza (2008). Nesta obra, Blanes retrata uma das fases na luta pela independência do Uruguai, quando em abril de 1825, o General Juan Antonio Lavalleja e mais um grupo de homens desembarca de forma furtiva às margens do Rio Uruguai. “O propósito da logo chamada cruzada libertadora, era explícito e claro: a independência do Brasil e reintegração às Províncias Unidas do Rio da Prata” (SOUZA, 2008).
Uruguai – Historiografia, nação e o patrimônio (antes da institucionalização)
A singularidade histórico-cultural do Uruguai tem sido objeto de reflexão por parte de intelectuais como Alfredo R. Castellanos (1974), historiador, escritor e professor. Para ele, o Uruguai tem uma constituição de povos um tanto diferente dos outros países latino-americanos; enquanto os demais países receberam povos ibéricos na época de sua descoberta, o Uruguai, foi esquecido por quase dois séculos pela coroa espanhola. Em suas três primeiras décadas de independência, o Uruguai sofreu com revoltas; a Constituição de 1830 declara Montevidéu centro político do país, deixando a campanha sujeita a suas ordenações, o que causa uma luta como entre a “civilização e a barbárie”. Apesar dos percalços, o Uruguai apresentou sinais de progresso, principalmente quando falamos da arquitetura da sua capital. O desenvolvimento edilício de Montevidéu se dá através de três feitos realizados na cidade: demolição de suas muralhas, em 1829; abertura da Ciudadela, entre 1833 a 18365; e o traçado urbanístico da Ciudad Nueva, entre 1829 a 1830.
Quanto à historiografia sobre a nação, pode-se dizer que no século vinte o tema
continua sendo frequentado. Exemplo disso é Pablo Blanco de Acevedo e sua obra “El govierno colonial en el Uruguay y los orígenes de la nacionalidad”, publicada em 1929. Nela o autor argumenta que a origem da nacionalidade uruguaia encontra-se no interior das cidades da época colonial, especialmente em Montevidéu. A vida independente da cidade teria trazido este sentimento de liberdade que seria a base do ser nacional. Segundo este:
“Partimos de un concepto que es fundamental: el espíritu localista del núcleo urbano principal, determina la nacionalidad, cuyo germen vive y se desarrolla durante toda la época española. La legislación fortifica esa idealidad, y en Montevideo las instituciones se moldearon con un carácter regional”. (BLANCO ACEVEDO apud SCHEIDT, 2006, p.7).
Outro importante historiador, Juan Pivel Devoto, defende a tese de que a nacionalidade uruguaia está pressuposta desde os primórdios da sua construção social, assim como as delimitações geográficas também teriam somado para a feição do ser nacional (PIVEL DEVOTO apud SCHEIDT, 2006). Outros autores escolheram falar sobre autonomia no lugar de nacionalidade; este é o exemplo de Alberto Zum Felde (apud SCHEIDT, 2006, p.8), com obras datando de 1920. Segundo Zum Felde, o “sentimento autonomista” tem seus primórdios na capital uruguaia, Montevidéu no período colonial, devido às disputas econômicas com o porto de Buenos Aires. Essa autonomia criou o sentimento federalista de Artigas, propondo a união nacional através da independência das províncias. O movimento revolucionário de 1825, através dos orientais, almejava a união com as demais províncias do Rio da Prata, com respeito pela autonomia de cada uma delas, e não uma república separada. A chegada à constituição de um estado independente em 1828 foi, portanto, o resultado de vários fatos dos anos anteriores. Pivel Devoto (apud SCHEIDT, 2006) sustenta que, devido às conexões feitas entre personagens uruguaios, argentinos e brasileiros, a organização da nacionalidade uruguaia foi atrasada, assim também pelo fato do Brasil e da Argentina terem interesses de expansão sobre este território, impossibilitando a construção da “pré-configurada nação uruguaia” (p. 8).
Os estudos sobre o patrimônio uruguaio, principalmente aqueles relacionados aos séculos XVIII e XIX em comparação com o que é abordado neste trabalho, são exíguos. Antecipam estes relatos os autores que referimos na sequência. De acordo com Alfredo R. Castellanos (1974), o grau de cultura de um povo pode ser medido quando o mesmo aprecia e valoriza os fundamentos de representação e de evocação de seu passado. Esta ideia pode ser considerada por todos os países que possuem um patrimônio valioso e que, através do conhecimento adquirido, buscam a “valorização e conservação daqueles elementos morais e materiais que os integram, com o intuito de fazê-los servir aos fins da cultura geral” (p.107). O crescente sentimento antiespanhol que está presente em vários países hispanos americanos na época de suas independências pode ser notado neste Uruguai recém independente, principalmente pela falta de apego às tradições espanholas presentes no discurso dos seus primeiros homens públicos; acrescido à constante ânsia pelo progresso, o legado espanhol foi menosprezado (através da representação de monumentos arquitetônicos), sendo que muitos edifícios foram demolidos ou abandonados à ação predatória do tempo e dos homens.
Similar ideia é compartilhada por Aquiles B. Oribe (1932), escrivão público e historiador uruguaio, quando diz que a história da origem de um país pode ser medida através de seus monumentos e a conservação dos mesmos revela o amor à Pátria e ao espírito nacional. E ainda mais, é dever de todos a preservação desses monumentos e objetos de arte, como forma de perpetuação das glórias e vitórias do povo e para que seja ensinada às gerações futuras o quão grandioso é o seu povo e suas origens. Os monumentos representam um período histórico do país, trazendo a nós o talento do artista e “el supremo e infinito reconocimiento del alma de un pueblo por reflejarse” (p. 285), onde as representações de nacionalidade, de liberdade e de progresso de outros tempos podem ser relembradas, porque é nos monumentos que estão grafadas “la historia de los orígenes de un país, de su civilización y de sus genios” (p.285). É através da preservação destes que podemos ver e vivenciar o quanto este povo possui uma percepção de nacionalismo e de apreço pela sua pátria.
Oribe (1932) também chama a atenção que sem a proteção do Estado, através de uma adequada legislação para preservação dos monumentos históricos, toda iniciativa de salvaguarda é incerta, pois as pessoas não possuem considerável instrução para valorizar os mesmos, seja por desconhecimento, ignorância ou despreocupação, abrindo brechas na história através da extinção ou mutilação destes monumentos que não poderão mais ser fechadas. É importante notar que esta preocupação latente de Oribe é publicada no ano de 1932 e revela uma antecipação às leis de proteção em vigência no país. Este inclusive, citando Fray Pedro Thomaz Margallo, revela que esta preocupação sobre a preservação encontrava-se também no país vizinho, Brasil, quando fala sobre a deterioração das obras de arte no estado da Bahia na Revista do Instituto Histórico e Geográfico no ano de 1927. Diz:
«Más de una vez he tenido ocasión de tratar este asunto con personas competentes y grandemente interesadas en la conservación de preciosas obras de arte, obras éstas que, en su mayoría, están abandonadas o entregadas a la ruinosa acción del tiempo, sin despertar, en los espíritus de sus admiradores, otro interés que el de satisfacer su curiosidad, lamentándose inútilmente de la próxima ruina a que están llamadas, como si, impotentes para remediar tan sensibles pérdidas, no hubiese un medio para evitar a tiempo la desaparición de tan riquísimas joyas. Duele en el alma ver cómo se van tan preciosas reliquias de incalculable valor artístico, y que por nuestra incuria despojamos de ella a Bahía”. (MARGALLO apud ORIBE, 1932, p. 287).
É pela falta de uma legislação apropriada que isto estava acontecendo no estado da Bahia, mas é também um exemplo da relação dos demais países latinoamericanos com seus bens culturais materiais. Monumentos e edifícios antigos deveriam receber, com uma especial atenção por parte do Estado, pois este é um dever patriótico e de estima às conquistas da nação e mais ainda, uma obrigação que não pode ser abandonada (ORIBE, 1932). No caso uruguaio, de acordo com o arquiteto William Rey Ashfield (2013), é desconhecido o exato momento em que a terminologia “patrimônio” irrompeu junto à sociedade uruguaia, mas é possível que desde o último terço do século XIX o termo já estivesse se estabelecendo. No trabalho sob o título «El patrimonio arquitectónico en Uruguay y sus relaciones con la historiografía y el ensayo literario (1920 a 1950)», Rey Ashfield argumenta que, neste mesmo período, haviam algumas tratativas de valorização de espaços históricos coloniais, evidenciando um conceito de patrimônio, anterior então ao uso mais “consciente” da palavra patrimônio (p. 14). Mas neste contexto, pode-se afirmar que este conceito de patrimônio está mais ligado a uma ideia em crescimento que a um conceito já estabelecido.
No quadro dos ensaios literários e a arquitetura, não podemos negar a importância que o intelectual José Enrique Rodó (ASHFIELD, 2013) teve sobre os ideários dos jovens arquitetos neste contexto pré-patrimonial, assim como em todo ideário cultural dos fins do século XIX. Mesmo não tendo escrito especificamente sobre arquitetura, Rodó teve um alcance muito maior à cultura uruguaia. Autores influenciados pelas ideias de Rodó, escreveram sobre arquitetura uruguaia, textos estritamente disciplinares e sobre arquitetura projetada ou construída.
Este é o caso de Julio Vilamajó e seu texto “Apuntes de Viaje” (ASHFIELD, 2013). Este texto foi tratado apenas como apontamentos de viagens feitos por este arquiteto, viagem esta realizada pelo litoral mediterrâneo e o sul da Espanha. Não foi levado em consideração o fato de que os escritos apresentam um olhar próprio do autor no quesito de uma apreciação cultural em formação sobre os locais mais interessantes e de possíveis paradas no trecho e neste olhar pesa principalmente a construção acadêmica do mesmo, as leituras feitas e as ideias que estavam em voga no Uruguai de 1920 e, também nesta situação, os ideais rodonianos.
Outros que sofreram uma forte influência pelos escritos de Rodó foram os arquitetos uruguaios (e também alguns estrangeiros) que iniciaram na década de 1920 a Revista Arquitectura, ligada à Sociedad de Arquitectos del Uruguay (SAU). Na publicação de Junho de 1927, podemos ver este fragmento:
“La incidencia de Rodó es amplia en todo el espectro universitario, particularmente en las primeras promociones de arquitectos. Cándido Lerena Joanicó y Román Berro, e incluso más tarde Horacio Terra Arocena, solo por citar algunos, fueron arquitectos de evidente filiación arielista. Importa recordar que en el Primer Congreso Panamericano de Arquitectos se trata, se acepta y se decide promover la idea del Dr. Julio Lerena Joanicó para la edificación de una gran sala de conferencias, a manera del templo laico, en homenaje al autor de Ariel” (Revista Arquitectura, SAU, Montevideo, Junio de 1927 in ASHFIELD, 2013).
Ashfield (2013) nos fala que o fato de Rodó ter sido citado no primeiro Congresso Panamericano de Arquitetura, em Montevidéu, no ano de 1920, comprova sua força como princípios para vários arquitetos que escreveram baseados nos seus ideais. Existe a partir da primeira metade do século XX, uma linha tênue que vai do discurso arielista de Rodó ao discurso historiográfico e o ensino praticado nas escolas de arquitetura e ainda da produção arquitetônica neste período. Vejamos, então, os argumentos de Rodó em Ariel. O valor que este texto tem com relação à atitude local e a chegada do moderno não podem ser ocultados; a partir de um ecletismo que não foge às mudanças, mudanças estas presentes no pensamento moderno, que tem muita força neste período do começo do século XX, Rodó expressa suas ideias de uma forma a demonstrar que este é um caminho delicado a seguir, onde o furor pelo novo (o modernismo) deve acontecer de tal forma que ainda respeite as tradições de nossas heranças (no caso, o ecletismo). Estas suas ideias podem ser entendidas como um “racionalismo harmônico”, expressado nas definições de Alberto Zum Felde como um ecletismo que busca a harmonia e conciliação com o moderno (DE LEÓN apud ASHFIELD, 2013). Para Ashfield (2013), as consequências arquitetônicas destes ideários estão nas concepções de grande parte da produção deste período, principalmente naquelas obras que possuem uma síntese entre os elementos tradicionais historicistas e os modernistas, de forma mais conceitual que formal, sendo que, em última análise, estes ideais de Rodó vão mais além das expressões arquitetônicas.
A ideia de patrimonialização deste período no Uruguai estava fortemente acompanhada do sentido do monumento, mas este de forma singular e sem levar em consideração seu contexto histórico. Os textos elaborados eram feitos de forma singular, sem preocupação com o todo. Podemos ver que isto acontecia pelo fato de que a história estava ligada a “um olhar arqueológico e subordinada ao resgate ou restauração de obras concretas” (ASHFIELD, 2013, p.27). De acordo com o historiador uruguaio Alejandro Giménez Rodriguez (2011), pode-se dizer que as primeiras intenções de discussões entre urbanismo, patrimônio e meio ambiente na cidade de Montevidéu acontecem quando o arquiteto espanhol Tomás Toribio planeja uma ordenação de postos fixos para venda de verduras na Plaza Matriz.
Segundo Ashfield (2017) há um levante por parte da população que é contrária ao projeto de Toribio, pois o mesmo iria apropriar-se de um espaço urbano que era de lazer e de interesse público; portanto, vemos aqui uma primeira consciência de uso e apropriação de áreas públicas de interesse geral. Inclusive os espanhóis haviam mandado amuralhar esta região, que era um ponto estratégico platense, estendendo-se entre 1724 a 1730. Mesmo que sua existência fosse por motivos militares, estas muralhas foram palco para as primeiras reflexões sobre sua existência. Artigas mandou derrubar em 1816 pois alegava que as mesmas davam resguardo aos invasores, mas seus planos não foram colocados em prática; quando então, no início do ano 1817, se concretiza a invasão portuguesa, transcorre por anos uma guerra em prol da independência do Uruguai, primeiro de Portugal e depois do Brasil. Foi somente no 25 de agosto do ano de 1829 que a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do recém-criado Estado Oriental aprova uma lei que estabelece a demolição da fortificação; neste momento de institucionalização do Estado pesava muito mais a exaltação patriótica do que conceitos patrimoniais (RODRIGUEZ, 2011, p.34).
E neste momento em que o Estado está sendo organizado, algumas iniciativas que começaram a ser tomadas configuram antecedentes à defesa do patrimônio. Rodriguez (2011) escreve que o primeiro presidente da República, General Fructuoso Rivera, criou em dezembro de 1831, a “Comisión Topográfica” antecessora da atual “Dirección Nacional de Topografia”. Esta comissão teve um papel importante nestas primeiras décadas de vida do país, pois trouxe um exato conhecimento da topografia do país e os desenhos elaborados eram verdadeiras obras-primas. Em uma breve entrevista realizada com a publicitária gráfica uruguaia Norma Calgaro, integrante do corpo técnico da “Comisión del Patrimonio Cultural de la Nación” (CPCN) desde o ano de 1990, situado na cidade de Montevidéu, pude obter informações e acesso a este material que foi reeditado no ano de 2011 pelo governo uruguaio, com o nome de “História medida de un rico patrimonio”.
Essa revista traz mapas e cartas geográficas do século XIX, tanto da República Oriental do Uruguai, quanto das cidades e departamentos que o compõem e é um relato não só gráfico, mas artístico e histórico do país. Nesta publicação podemos ver uma seleção de mapas que possuem valor histórico, seja pelo relato histórico como podemos ver no mapa do departamento de Paysandu que mostra vestígios do que foi a Villa Purificación, capital do governo Artiguista entre 1815 e 1817; seja pela beleza gráfica, como por exemplo, o mapa de Santíssima Trinidad ou até mesmo mostrando um Uruguai do século XIX com seus limites e fronteiras estabelecidos, depois de travada tantas batalhas para a configuração desse país (Archivo Gráfico de Planos de Mensura, 2011).
Voltando a Rodriguez (2011), este nos fala que na cidade de Montevidéu, no ano de 1843, aconteceu algo que, de acordo com o arquiteto Nery González “fue probablemente el primer acto consciente de rescate del pasado y de afirmación de la memoria en el escenario urbano” (apud RODRIGUEZ, 2011), quando foi redigido um plano para nomear as ruas da cidade. Desta forma, expressões dos valores dominantes e relações de poder são estabelecidas no cotidiano do cenário histórico. Neste mesmo ano de 1843 cria-se o Instituto Histórico e Geográfico do Uruguai, especializado no estudo e investigação acadêmica (RODRIGUEZ, 2011). Ashfield (2017) nos relata que o IHGU teve um papel importante durante os séculos XIX e XX, pois intelectuais e pensadores ligados a ele contribuíram de forma significativa para a conformação dos ideais nacionais e de resgate histórico; o conceito de nação é um conceito que se estrutura através de um lugar oficial e isto é feito muitas vezes pelo pensamento de uma elite que constrói e estabelece esta definição; por isto a importância dos Institutos Histórico e Geográficos, pois estes conceitos a respeito da nação são também pensados e construídos a partir deles.

Figura 4 – “La Revista de Santos”, quadro de Juan Manuel Blanes, 1885. Fonte: CAETANO, 2000.
Quando se começa em 1860 as primeiras reivindicações de elevar Artigas a herói nacional, onde surge a solicitação de um monumento e biografias são escritas, as expressões artísticas vem a reforçar a “formação de uma identidade nacional que se consolida no último quarto do século” (RODRIGUEZ, 2011, p. 35). O final do século XIX e início do século XX é um tempo de afirmação do Uruguai como nação, sendo construída como uma comunidade imaginada, fazendo isto através dos ícones que estão sendo forjados para a configuração de uma identidade coletiva. Estes ícones identitários são representados através tanto da pintura quanto da escultura no que tange às expressões artísticas. Neste quadro de Juan Manuel Blanes (figura 5) podemos ver a representação do General Santos e de seu alto-comando e, no fundo da tela, um até então imaginário monumento a Artigas, trazendo nesta tela como uma romantização do herói. Interessante notar que este monumento só viria a ser inaugurado no ano de 1923 (figura 6), na Plaza Independencia em Montevidéu, fruto de um concurso lançado no governo Battle, cujo ganhador foi o italiano Ángel Zanelli, ressaltando o caráter heróico e monumental do herói Artigas através da escultura (CAETANO, 2000).
O antropólogo Donizete Rodrigues (2013) nos fala que estas identidades reforçam estes processos identitários históricos que estão se estabelecendo, trazendo um sentido de grupo e de pertencimento por parte do povo com relação à nação; muito ligado à memória social, pois através dos processos sociais e históricos (expressões, narrativas, vivências e legitimações) existe todo um reforço e reprodução da identidade de um grupo. De acordo com Halbwachs (apud RODRIGUES, 2013), esta relação entre a memória social e a identidade se entende pelo fato de que a identidade retrata todo um empenho que o grupo faz, durante um período, na estruturação da memória. Consequentemente, “a memória coletiva está na base da construção da identidade. (…) reforça o sentimento de pertença identitária e, de certa forma, garante unidade/coesão e continuidade histórica do grupo” (p. 5).

Figura 5 – Grande manifestação patriótica na inauguração do monumento a Artigas em 1923.
Fonte: El País, Historia del Uruguay en imágenes apud CAETANO, 1990.
Para Candau (2016), o pensamento social é o resultado da transmissão de lembranças e de esquecimentos; mas quando esta transmissão falha, como somos capazes de fundar as representações de uma identidade coletiva? Sem a mobilização da memória, que é a transmissão, não há socialização, nem mesmo a educação e a cultura; e sem isto, não existe a formação de uma identidade social. Esta exteriorização da memória se dá através da escrita (que facilitou a socialização, reforçando um sentimento de pertencimento, mas que pode ser considerada inautêntica, pois é seletiva), através da comunicação oral (pelo contato vivido entre as pessoas, sendo considerado autêntico) e através das imagens (esta se alimenta de memórias superficiais, auxiliares ao esquecimento, pois uma imagem sempre pode substituir outra).
Ligados à história da cidade, estão alguns prédios que podiam ser considerados como portadores de uma memória arquitetônica do país e que estavam estabelecidos como marcos de identidade de um período. Até mesmo a demolição, em 1876, de ícones representativos da época colonial espanhola, os antigos edifícios militares espanhóis “la Ciudadela, el Fuerte San José y el Fuerte de Gobierno” (RODRIGUEZ, 2011, p. 36), trazem o sentimento identitário deste país em formação. Somente em 1896, quando o historiador Francisco Bauzá discursa na bancada do Senado, opondo-se à demolição de um casarão antigo da cidade, vemos alguém falando pela primeira vez sobre um monumento histórico. Ele dizia:
“Yo no creo que las ciudades se embellezcan porque cambien radicalmente sus edificios y se pongan al último figurín. En todas partes del mundo, en las ciudades europeas (…) los edifícios antiguos de representación histórica, son conservados en toda su integridad. (…) Entre nosotros no se ha dejado nada absolutamente que nos recuerde la vida (de hace) treinta años, y no sé por qué razón, desde el mobiliario hasta los edifícios, toda ha sido renovado en la capital, y lo mismo sigue haciéndose en las ciudades del interior. Una especie de vandalismo ilustrado que asusta!…” (BAUZÁ apud RODRIGUEZ, 2011)
É, portanto, no findar do século XIX e início do século XX que se começa, então, a enxergar a urgência de legislar em favor da proteção do patrimônio neste momento de afirmação do Estado-nação, através da fala de vários intelectuais que afirmam a importância da preservação da história presente nos bens materiais, principalmente através das representações arquitetônicas da cidade; mas desde o princípio nota-se que esta não é uma tarefa fácil (RODRIGUEZ, 2011). Pensar o Uruguai foi uma constante nas primeiras décadas do século XX, do qual são expoentes as ideias de Francisco Bauzá, Juan Pivel Devoto, Pablo Blanco de Acevedo, José Enrique Rodó, Alfredo Castellanos, dentre outros. Houve nesse período espaço para uma primeira tomada de consciência em relação à preservação do passado (mais ligado aos bens culturais da natureza material) do Uruguai em publicações como a de Aquiles Oribe.
1.3 Uruguai e os primórdios da institucionalização do patrimônio material
A história que envolve a institucionalização do patrimônio em um país começa antes mesmo que haja uma legislação específica da conformação do campo patrimonial e as declaratórias de bens patrimoniais estão fortemente ligadas ao conceito de nação (ASHFIELD, 2017). Segundo Margarita Montañes e Marta Risso (1986), arquitetas uruguaias, a primeira iniciativa de caráter geral referente à Legislação Nacional sobre o patrimônio uruguaio que se tem relato e datada de 13 de julho de 1913, foi apresentada pelo Dr. José Salgado na Câmara de Deputados. De acordo com o historiador Alejandro Giménez Rodriguez (2011), Salgado, inspirado pela lei francesa de proteção de bens históricos de 1887, apresenta o primeiro projeto de proteção patrimonial, afirmando que é dever da democracia cuidar da cultura de seus cidadãos e esta pode ser construída através da mirada dos monumentos e objetos de arte; sendo que quando o homem se depara com os edifícios erguidos em outras épocas, ele sente-se herdeiro e continuará honrando os esforços das gerações passadas. Salgado, neste olhar para um passado nostálgico e que deve ser cultuado, finaliza falando que o ideal é que seja possível conservar, sempre que possível, o aspecto tradicional do território, enfatizando “porque el amor al suelo forma indiscutiblemente parte del amor a la patria” (SALGADO apud RODRIGUEZ, 2011).
William Rey Ashfiled, nos revela em entrevista (2017) que não é por casualidade que nos anos de 1920 e 1930 começa-se a ter olhar de salvaguarda pelos monumentos coloniais. Nesses anos inicia-se uma revisão histórica dos modelos civilizatórios (que eram muito anti-hispânicos). Neste momento aparecem pensadores e historiadores, como Rodó, que possui já uma atitude muito menos dura com o passado espanhol e mais, vê a Espanha como uma ponte entre as antigas civilizações clássicas e a América Latina. Espanha começa a ser revalorizada e isto começa, em toda América Latina, quando em 1892 comemora-se o Quarto Centenário de descobrimento da América; vê-se toda uma revisão com relação ao pensamento relacionado à Espanha, através de monumentos em toda a hispano américa. Portanto, nas décadas de 1920 e 1930 há um olhar muito pró-hispânico e que inclusive, no Brasil também acontece, através de uma revalorização do passado colonial português (um olhar alternativo) e surgem, por sua vez, as arquiteturas neocoloniais, tanto no Brasil quanto em toda a América Hispânica. Bens coloniais que não se veem mais como bens distantes com relação à história do país, mas os incorpora à mesma; começa-se a ver que a história do país é uma história maior do que a já contada, não começa em 1830 com a independência e inicia-se um olhar de uma nação mais distante no tempo.
Isto leva a que os primeiros tombamentos estejam muito focalizados nos bens coloniais, revela Ashfield (2017). Voltando à Montañez e Risso (1986), a segunda iniciativa referente à proteção do patrimônio no Uruguai, de 16 de outubro de 1924, já não é mais de caráter geral, mas pontua a importância a respeito do bairro antigo de Colônia de Sacramento e a sua preservação, surgida através do antigo Conselho Nacional de Administração, ligado ao Poder Executivo desde 1913. Mas é em 29 de junho de 1926 que forma-se um importante reforço à salvaguarda de bens uruguaios, quando é formada a Sociedad Amigos de la Arqueología, composta por mestres, doutores e arquitetos que buscavam a preservação histórica de bens do país.
É de iniciativa deste grupo que em 26 de dezembro de 1927 se declarasse como Monumento Nacional a Fortaleza de Santa Tereza, localizada na cidade de Rocha, importante vitória para estes defensores do patrimônio uruguaio. Esta Fortaleza foi palco de lutas pelo território uruguaio, travada por portugueses, espanhóis e crioulos, trazendo novamente a ideia da epopeia fundadora do país e a sua estreita ligação com o patrimônio. Rodriguez (2011) afirma que esta fortaleza foi elevada ao status de “Monumento Nacional”, o que veio a acontecer também com a Fortaleza del Cerro (Montevidéu) e Fuerte San Miguel (Chuy) no ano de 1931, ambos testemunhas das batalhas entre espanhóis e portugueses pelo território oriental.

Figuras 6, 7 e 8 – Fortaleza Santa Tereza (Rocha), Fortaleza del Cerro (Montevidéu) e Fuerte San Miguel (Chuy). Fonte: http://fortalezas.org/, 2003.
E é no Tomo VI da Revista de la Sociedad de los Amigos de la Arqueología, elaborado em Montevidéu, que Aquiles B. Oribe (1932) escreve a respeito do “Proyecto de Ley para la conservación de Monumentos Nacionales y de Adquisición de aquellos que
deban declarse tales”, antecipando motivos e fatos que levam a um pensamento mais crítico a respeito da importância da preservação e das leis serem constituídas para a salvaguarda de bens culturais, desta vez, de natureza material.

Figura 9- Capa da Revista de la Sociedad Amigos de la Arqueología, TOMO VI, 1932.Fonte: Silveira, 2017.
Os fundamentos da proposta de Oribe (1932) embasavam-se na conservação de tudo o que representava a grandeza, o heroísmo, a glória e a cultura de um país e isto era um dever nacional; através dos monumentos podia-se ver a história das origens de um país, da sua civilização e de sua genialidade e outra preocupação levantada por Oribe era a de combater as práticas elginistas6, mantendo assim as obras e monumentos em seu país de origem. As principais características da proposta de Oribe foram a criação da Comissão de Monumentos Nacionais, cujos membros seriam nomeados pelo Ministério de Instrução Pública da época, com o intuito de preservação dos bens patrimoniais. Esta Comissão analisaria os monumentos e os definiria por categorias, sendo elas: de interesse histórico, de interesse público e monumentos nacionais; criaria ainda um registro para cada categoria de bens; regulamentaria sobre as ruas onde estão dispostos os bens históricos ou monumentos e ainda sobre as fachadas dos mesmos que não podem sofrer alteração sem uma autorização prévia; as paisagens, sítios, ruínas, monumentos e objetos naturais seriam declarados Monumentos Nacionais pela necessidade de sua conservação; bens históricos ou de interesse público que tivessem entrado no país sem permissão seriam confiscados; criaria infrações penais para criminalizar àqueles que agregassem, destruíssem ou subtraíssem bens que integram o patrimônio (ORIBE, 1932).
Já em 1938 (MONTAÑES, RISSO, 1986) é criado, na Faculdade de Arquitetura, o “Instituto de Arqueologia Americana”, sendo que em 1948 seu nome mudaria para “Instituto de História da Arquitetura”, onde desde o seu início teve uma contribuição destacada na valorização e promoção dos valores históricos da Arquitetura Nacional. Foi no ano de 1950 que se criou de forma permanente a “Comisión Nacional de Monumentos Históricos”, através da Lei 11.473 de 10 de agosto daquele ano. Este é um marco importante no que tange às leis de proteção de monumentos históricos, pois como podemos ver no artigo 13 desta lei, conhecida como a Lei de Homenagem a Artigas, está se estabelecendo os primórdios da constituição da lei de criação da Comissão do Patrimônio. Esta comissão tinha a tarefa de regulamentar suas funções e de estabelecer meios de conservação da riqueza histórica e artística da República e de realizar um inventário dos monumentos históricos nacionais (CALGARO, 1992).
Também era papel da Comissão chamar um concurso para investigar as rotas e lugares históricos relacionados à Artigas, em homenagem ao centenário de sua morte. Compunham a comissão os seguintes membros: um integrante Ministério de Instrução Pública e Previsão Social, um do Ministério da Defesa Nacional, um da Faculdade de Arquitetura, um da Sociedade Amigos da Arqueologia, um do Instituto Histórico e Geográfico, além dos diretores do Museu Histórico Nacional e o do Arquivo Geral Nacional, sendo a sede da Comissão no Museu Histórico Nacional (SILVEIRA, 2017). Ainda segundo Rodríguez (2011), esta lei estabelece-se como um ato recordatório do centenário da morte do prócer José Artigas e com a criação da Comissão releva 95 obras e locais que devem ser protegidos.
Em 1952 a Comissão Nacional de Monumentos Históricos publica na Revista Histórica, Tomo XVII, o “Inventário de los Monumentos Históricos Nacionales”, que era uma das suas atribuições estabelecidas no marco de sua criação. Esta comissão era responsável por levantar através deste inventário quais seriam declarados como bens históricos ou naturais, estabelecendo também que as Fortalezas de Santa Tereza e o Forte de São Miguel e os parques anexos que os constituem são indivisíveis e declarados como Reservas Nacionais, sendo que todo objeto e todas as construções dos mesmos servem como uma evocação histórica para inspirar a constituição desta lei. Outros locais e cidades são descritos no artigo 17 deste Inventário como de intenção de aquisição por parte da Comissão para que fossem preservados seu caráter nativo e que se transformassem em Reservas Nacionais para a visitação pública (REVISTA HISTÓRICA, 1952).

Figuras 10 e 11 – Vista aérea da Fortaleza de Santa Tereza e do Fuerte San Miguel na década de 1970. Fonte: CASTELLANOS, 1976.
Nesta mesma publicação da Revista Histórica (1952) consta o “Proyecto de Ley sobre declaración de monumentos históricos nacionales” e nele são estabelecidos, através da Comissão Nacional, aqueles edifícios que são declarados como monumentos históricos, sejam pela sua vinculação com acontecimentos relevantes para a evolução nacional e ligados a personagens notáveis da vida do país ou por serem considerados arquitetonicamente representativos do estilo ou da cultura da época a que pertencem. São classificados em itens como arquitetura militar, arquitetura religiosa, arquitetura civil, marcos delimitadores, esculturas religiosas, cemitérios rurais, monumentos e arquitetura do meio rural, como podemos ver no anexo B. Alguns exemplos destes monumentos históricos são os já citados Fortes de Santa Tereza, San Miguel e Del Cerro e a Torre del Vigía, na cidade de Maldonado, como arquitetura militar; a Catedral de Montevidéu e a Capela da Caridade (fachada do Hospital Maciel), como arquitetura religiosa; casa de Lavalleja e o Cabildo, como arquitetura civil; monumento a la Declaratoria de la Independencia Nacional, em Florida, além de muitos outros incluídos na lista de monumentos históricos elaborada pela então Comissão Nacional de Monumentos Históricos.
Para não concluir
A ideia da fundação do Uruguai está ligada à construção de mitos históricos sobre a origem da nação. O mito do herói fundador se constrói no século 19, muito através de publicações históricas que carregavam a ideia do herói e de uma história de luta em defesa do ser oriental. Mas não foi apenas no âmbito da história produzida pelos historiadores que se constrói essa imagem, mas através das artes, como no caso da pintura de Juan Manuel Blanes.
Esta historiografia continua a representar a nação no século 20 se destacando, nas primeiras décadas, intelectuais como Francisco Bauzá, Juan Pivel Devoto, Pablo Blanco de Acevedo, José Enrique Rodó, Alfredo Castellanos, dentre outros. Também no século 20 é Importante pontuar a preocupação com o patrimônio através da criação da Revista de la Sociedad de los Amigos de la Arqueología. Ponto relevante para a conformação do campo patrimonial uruguaio foi o projeto de Aquiles B. Oribe, publicado em 1932 e publicado em tal revista, intitulado “Proyecto de Ley para la conservación de Monumentos nacionales y de Adquisición de aquellos que deban declararse”, correlato também a declaração da Sociedad Amigos de la Arqueologia feita em 1927.
Nestas décadas iniciais a noção de patrimônio estava fortemente ligada ao sentido de monumento. A criação da Comissão Nacional de Monumentos em 1924, através da Sociedad de los Amigos de la Arqueología, é outro momento importante na conformação do campo patrimonial. Contudo, a materialização de uma instância que em âmbito nacional cuidasse da preservação de monumentos históricos dá-se somente depois de 18 anos da publicação de Oribe, através da Lei 11.473 de 10 de agosto de 1950. Tal lei tem forte ligação memorial ao General José Artigas, pois é promulgada justamente no ano do centenário da morte desse herói. Por fim, importante para finalizar as considerações deste trabalho, dois anos após a criação da Lei 11.473/50, é publicado na Revista Histórica um inventário de bens do patrimônio histórico nacional, através da Lei de Monumentos de 1952.
A história alargada da conformação do campo patrimonial no Uruguai não finaliza com o período estudado neste artigo. Outros relatos, mais instigantes e tensionados, sobre o campo patrimonial uruguaio serão objeto de futuras reflexões.
Notas e citações
- A ideia da nação como uma formação discursiva que dá forma ao mundo moderno é interessante, como podemos ver no caso de Craig Calhoun no seu trabalho “O nacionalismo importa”, em D. H. Doyle e M. A. Pamplona.
- General José Gervasio Artigas, segundo a Biblioteca Artiguista (2001), foi herói por excelência da História Nacional, Primeiro Chefe do Leste e primeiro estadista da Revolução do Rio de la Plata. Foi a partir do final do século XIX que Artigas alcançou o lugar de herói nacional, quando nomes como Francisco Bauzá trouxeram um novo enfoque sobre a História Nacional, contrapondo à publicações como a de Francisco Berra em “Bosquejo histórico de la República Oriental del Uruguay” que descrevia a figura de Artigas como de “una persona enérgica, tenaz, irreductible a las normas de la sociabilidad, indisciplinado y emancipado de su familia… muy egoísta, dominador, intolerante y en extremo vengativo.” (CAETANO, 2000).
- Gaucho: segundo a autora, são pessoas livres e sem apego. Foi a partir da criação do gado que começou a se constituir esta identidade, intrinsecamente ligada à identidade do país. Os poucos colonos que lá viviam são muitas vezes descritos como solitários, homens do campo, que para sobreviver nada tinham que fazer além de capturar uma das muitas cabeças de gado existentes, pois o gado estava solto, não havendo cercas nos pastos.
- La Redota: Ana Frega explica que a expressão denota rotas, caminhos, trajetos, sendo algumas vezes, de forma equivocada, interpretada pela palavra gauchesca “la derrota”. Segundo a autora, é necessário avaliar os sentimentos e humores das pessoas que participaram desta marcha, que em nenhum momento era de derrota. Em meados do século XX, Carlos Maggi resgata o termo “la redota” e propõe que se substitua por “êxodo”, já que a primeira expressão seria mais característica da cultura rural do movimento (MUGURUZA, 2013).
- Segundo Castellano (1971), a demolição das muralhas e a abertura de La Ciudadela marcam um momento importante de interação entre a capital e a campanha, pois a mesma sinalizava a uma divisão moral entre seus habitantes; estas muralhas foram palco de diversas batalhas entre a coroa espanhola e o império ibero-brasileiro contra o povo uruguaio, onde as mesmas serviam muito mais para abrigo e base de operações de um inimigo mais forte que para um refúgio de independência para o país. Às vésperas da invasão ibérica, Artigas escreveu: “Mi plan siempre ha sido sostener la guerra en campaña en razón de los recursos… Por lo mismo he resuelto que toda la guarnición salga fuera a obrar con el resto que deben hacer su resistencia en campaña; debiendo al efecto echar por tierra los muros, y poner a salvo todos los artículos y útiles de guerra para que esa Ciudad no vuelva a ser el apoyo de los perversos” (p. 23). O Jefe de los Orientales escreveu esta carta em dezembro de 1816, mas sua reivindicação não foi atendida, a praça foi novamente tomada pelos inimigos e o Uruguai passou por mais uma sangrenta guerra.
- Faz referência à Lord Elgin, Thomas Bruce, diplomata britânico entre os anos de 1799 e 1803, que mandou fazer o translado das métopas do Partenon da Grécia à Londres (conhecido como Os Mármores de Elgin) por razões de segurança devido ao conflito bélico entre Grécia e Turquia e mesmo naquela época foi
duramente criticado por ter danificado as peças. Prática também realizada por Napoleão quando transportou riquezas da Itália à França que logo conformaram o acervo museológico de algumas salas do Louvre (SILVEIRA, 2017).
Referências bibliográficas:
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ASHFIELD, William Rey. Entrevista realizada com o arquiteto no dia 10 de março de 2017 nas dependências de seu escritório na cidade de Montevidéu, Uruguai. 10 de março de 2017.
BAUZÁ, Francisco. História de la dominación española en el Uruguay. Montevideo, 1880.
CAETANO, Gerardo. Los uruguayos del Centenario: Nación, ciudadania, religión y educación (1910-1930). Montevidéo: Ediciones Santillana, 2000.
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CASTELLANOS, Alfredo R. Uruguay: Monumentos Historicos y Arqueologicos. Instituto Panamericano de Geografía e Historia. México, 1974.
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MONTAÑES, M.; RISSO, Marta. Nuestro Patrimonio: Las casas quintas de el Prado. Impresso por la División Publicaciones y Ediciones Universidad de la Republica. Montevidéo, abril de 1986. MUGURUZA, Manuela. Comemorações do Bicentenário Uruguaio em 2011: negociações em torno da identidade nacional. Dissertação de mestrado. Brasília: UNB, 2013.
MUGURUZA, Manuela. Comemorações do Bicentenário Uruguaio em 2011: negociações em torno da identidade nacional. Dissertação de mestrado. Brasília: UNB, 2013.
ORIBE, Aquiles B. Proyecto de Ley para la Conservación de Monumentos Nacionales y de Adquisición de aquellos que deban declararse tales. Revista Sociedad Amigos de la Arqueología, Tomo VI. Montevidéo, 1932. Disponível em:
<https://www.estudioshistoricos-en.edu.uy/assets/revista-amigos-de-la-arqueolog%C3%ADa—tom o-06.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017.
REVISTA HISTÓRICA. Inventário de los Monumentos Históricos Nacionales. Tomo VXIII. Ano de 1952.
REVISTA HISTÓRICA. Proyecto de sobre a declaración de Monumentos Históricos Nacionales. Tomo VXIII. Ano de 1952.
RODRIGUES, Donizete. Património cultural, Memória social e Identidade: uma abordagem antropológica. Coimbra: Ubimuseum, 2013.
RODRIGUEZ, Alejandro Giménez. Los caminos del patrimonio en Uruguay. Publicação na Revista Mouseion, n.10, jul-dez, 2011. Periódicos científicos. UnilaSalle Editora, Canoas – RS, Brasil. Disponível em:
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SCHEIDT, Eduardo. Debates historiográficos acerca de representações de nação na Região Platina. In: Revista Eletrônica da Anphlac, número 5, 2006. Disponível em:
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SILVEIRA, Jorge. Régimen Legal del Patrimonio Cultural en Uruguay. Apresentação. Disponível em: <www.fadu.edu.uy/iha/files/2012/05/Protección.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2017.
SOUZA, Susana Bleil de. A palheta e o pincel na construção de um mito fundador. In: Esboços – Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC. V. 15, nº 20. ISSN eletrônico 2175-7976: Florianópolis, SC, Brasil. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/issue/view/1124>. Acesso em: 13 jul. 2017.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Capa da publicação de Francisco Bauzá…………………………………………………… 02
Figura 2 – Capa da publicação de Alfredo R. Castellanos………………………………………….. 02
Figura 3 – “El juramento de los Treinta y Tres”, quadro de Juan Manuel Blanes, 04 1877……………………………………………………
Figura 4 – “La Revista de Santos”, quadro de Juan Manuel Blanes, 1885………………….. 12
Figura 5 – Grande manifestação patriótica na inauguração do monumento a Artigas em 1923…………………………………………………………………………………………………………………………. 13
Figura 6 – Fortaleza de Santa Tereza (Rocha)……………………………………………………………. 16
Figura 7 – Fortaleza del Cerro…………………………………………………………………………….. 16
Figura 8 – Fuerte San Miguel…………………………………………………………………………………… 16
Figura 9 – Capa da Revista de la Sociedad Amigos de la Arqueología, TOMO VI, 1932 17
Figura 10 – Vista aérea da Fortaleza de Santa Tereza na década de 1970…………………… 19
Figura 11 – Vista aérea da Fortaleza San Miguel na década de 1970…………………………. 19
Notas
* Greicy Gonzalez Andersen. Arquiteta e Urbanista. Pós-graduada em Design de Interiores. Mestra em Estudos Latino-Americanos. Atualmente é arquiteta urbanista da Universidade Federal da Integração Latino Americana e chefe do Departamento de Obras e Projetos da Prefeitura Universitária. Seus estudos e pesquisas alinham temas ligados ao patrimônio, história, América Latina e também à arquitetura que incluem, também, estudos de sustentabilidade e conforto térmico e lumínico. Os estudos já foram apresentados em anais de congressos ligados à arquitetura no Brasil.
** Hernán Venegas Marcelo. Docente e historiador da área de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Seus estudos e pesquisas atuais se situam nos campos da história moderna e suas relações com o mundo colonial atlântico e caribenho, das interfaces entre a história, o patrimônio cultural e a memória e da história do ensino de história. O resultados das pesquisas tem sido publicados em artigos, capítulos de livro e textos en anais de congressos científicos de Cuba, Brasil, México e Espanha.
Notas
* Greicy Gonzalez Andersen. Arquiteta e Urbanista. Pós-graduada em Design de Interiores. Mestra em Estudos Latino-Americanos. Atualmente é arquiteta urbanista da Universidade Federal da Integração Latino Americana e chefe do Departamento de Obras e Projetos da Prefeitura Universitária. Seus estudos e pesquisas alinham temas ligados ao patrimônio, história, América Latina e também à arquitetura que incluem, também, estudos de sustentabilidade e conforto térmico e lumínico. Os estudos já foram apresentados em anais de congressos ligados à arquitetura no Brasil.
** Hernán Venegas Marcelo. Docente e historiador da área de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Seus estudos e pesquisas atuais se situam nos campos da história moderna e suas relações com o mundo colonial atlântico e caribenho, das interfaces entre a história, o patrimônio cultural e a memória e da história do ensino de história. O resultados das pesquisas tem sido publicados em artigos, capítulos de livro e textos en anais de congressos científicos de Cuba, Brasil, México e Espanha.
